História do domingo: Cada pessoa é um oceano inteiro
Onda no mar
Se você vive com medo de mudanças, é bom lembrar do Lulu Santos: “tudo passa, tudo sempre passará”.
Como uma onda

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no
Nada do que foi será
(De novo do jeito que já foi um dia)
(Tudo passa, tudo sempre passará)
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
A música “Como Uma Onda”, do Lulu Santos, é uma reflexão simples — mas profunda — sobre a impermanência e as constantes mudanças e reviravoltas da vida.
• Ao dizer que “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia” ele escancara o óbvio: o passado não pode ser recriado.
E todo mundo sabe que o dia vira noite e as flores murcham. Que as solas dos sapatos se desgastam e as crianças crescem. Mas por que resistimos tanto às mudanças?
Talvez seja porque, nessa “ilusão da permanência”, acreditamos que só ficaremos bem quando tudo estiver no lugar.
Mas a verdade é que, junto com a vida, a gente também muda. Então vamos criando novos sonhos, novas vontades e novas verdades. Seguindo nesse “indo e vindo infinito”.
Citando os ensinamentos de Heráclito, “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.
• Pensando nisso, a permanência não existe nem no mesmo lugar e com as mesmas pessoas. Nem no mesmo emprego e no mesmo casamento.
Como “não adianta fugir nem mentir pra si mesmo”, o segredo é encontrar a paz — e a beleza — da inconstância. Em um mix de momentos bons e ruins, a gente agradece e canta: “há tanta vida lá fora”.
Cada pessoa é um oceano inteiro
(Baseado em uma história real)

Em julho de 2023, a Mônica conheceu o João. Segundo ela, os dois são mergulhadores. Ele como profissão, ela como estilo de vida.
• A conexão deles foi acontecendo aos poucos… Almoço, carona até o metrô, pausa para o café da tarde, até o convite para o primeiro encontro.
Ela ficava deslumbrada com as histórias sobre o fundo do mar e amava ouvir sobre golfinhos e tubarões. A Mônica confessa que “acha bem sexy esse lance de ser instrutor de mergulho”.
De formas diferentes, os dois mergulham por encanto. Ele tem o “Open Water Dive”, mas ela tem o certificado “Open Heart Dive”, que a permite ir fundo sem instrução nenhuma.
Nessa de ir fundo, a Mônica submergiu no oceano do João. Descobriu que ele ama cachorros e se encantou por sua aptidão natural de ser engraçado. Descobriu que ele tem dois irmãos, e a mãe mais legal do mundo.
Que ele já viajou pra Fernando de Noronha, Amsterdam e odeia todas as bandas que ela gosta. Mas pelo menos encontrou uma concordância entre os dois: comida japonesa é bom demais.
• No início, eles trocaram músicas e vídeos fofos de cachorro. Depois evoluíram pra beijos, carinhos, pizzas e uma vontade cada vez maior.
De julho a setembro, entre encontros e desencontros, a Mônica acabou se apaixonando. Ela só queria diversão e tentou lutar contra o que estava sentindo, mas não conseguiu.
Foi imergindo, até que, depois de um tempo, começou a ficar frio, e depois escuro. Ela ligou a lanterna tentando encontrar o coração do João, mas só achou naufrágios: dúvidas, medos e ansiedade.
Continuou mergulhando, mas em vez de encontrar golfinhos, só conseguiu avistar um grande cardume de mensagens não respondidas, desencontros e um silêncio ensurdecedor.
O conceito de vida da Mônica é liberdade. Ela acredita que é totalmente possível gostar de mais de uma pessoa ao mesmo tempo, e pensa que uma paixão não invalida um amor.
• O João, por outro lado, disse que gostou dela “além do permitido”, e por isso sumiu tantas vezes.
Ele confessou que não conseguiu lidar com esse estilo de vida “sem exclusividade”, e preferiu seguir a sua vida fazendo o que ele sempre gostou de fazer: mergulhar pelo mundo.
Mesmo tendo esse tal “espírito livre”, a Mônica sofreu muito. Sofreu pela falta da presença do João, do toque e de uma mensagem inesperada. Sentiu a falta dele por completo. E ainda sente.
Com essa mini relação que não tem nome, ela aprendeu que não importa quanto tempo durou ou quantas vezes beijou. O tempo deles foi curto, mas com uma intensidade que ela nunca havia sentido.
• Da última vez que conversaram, ele disse: "preciso que você entenda que estou tentando encontrar a pessoa mais importante da minha vida, eu mesmo".
Depois disso, não tiveram mais contato. A Mônica está respeitando esse espaço e torcendo pra que ele se encontre, se sinta completo, se ame e seja feliz. Mesmo que não seja com ela.
Lembrando de uma música que adora, ela diz “me tenho inteira pra você. Te guardo solto pra se aventurar. É tão bonito te espiar viver. Se encontra, se perde e se vê. Mas volta pra se dividir.”
Quando, por algum motivo, a Mônica desce na estação Ana Rosa, ou quando o aleatório do Spotify insiste em tocar “Sex n Drugs”, ela revive tudo o que brevemente viveram.
• Mas foi do jeito que tinha que ser. E, provavelmente, não poderia mesmo ter sido diferente. Ou poderia, né? Vai saber.
A Mônica não acredita em outras vidas, e talvez por isso seja tão intensa nessa. Mas, se algum dia ela reencontrar o João, quem sabe tenha coragem de dizer: “algo me diz que essa história ainda não acabou”.
Texto e imagens: The stories/Reprodução
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