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História do domingo: Laço vermelho

Fio invisível


Como dizia bukowski, "como pode dizer que ama uma pessoa quando dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse?"


Akai Ito

Akai Ito é uma lenda oriental que afirma que quando uma pessoa é destinada a outra, ambas têm um fio vermelho que as ligam.

• Segundo a crença, quanto maior e emaranhada for a linha, mais distante e doloroso será o encontro. 

Sua origem japonesa conta uma história um tanto bizarra. Segundo ela, um rapaz caminhava pela rua quando um idoso o abordou, dizendo que ele “precisava encontrar a sua mulher.”


O jovem respondeu rispidamente que “não iria se casar”, e o idoso disse que ele “se casaria com uma mulher com a qual ele estava amarrado por um fio vermelho pelo dedo mindinho”.


Neste momento, o menino viu o fio que seguia até o outro lado da rua, onde uma jovem estava sentada. Revoltado, ele arremessou uma pedra em sua direção, ferindo o seu rosto.


Anos mais tarde, ele cresceu e não tinha interesse em nenhuma mulher da sua aldeia. Até que, em uma noite qualquer, ele se apaixonou por uma silhueta feminina que viu em uma rua escura.

• A mulher era uma pessoa reclusa, que tinha vergonha do seu rosto. Ainda assim, ele se casou com ela.

Após a cerimônia do casamento, ele perguntou à esposa por que ela tinha vergonha da sua face, ao que ela respondeu que, quando criança, um rapaz tinha a ferido com uma pedra.


A história é mórbida e bizarra, mas é só mais uma entre tantas outras que procuram explicar a sensação de afinidade instantânea quando conhecemos alguém.


Tem gente que chama isso de destino e acredita que “o que é pra ser tem muita força”. Outras crenças falam sobre vidas passadas. Já o compositor Peninha fala de “carne e unha”, “alma gêmea” e “metade da laranja”.


• Também há quem diga que isso tudo é bobagem, reforçando que tomar decisões é a única forma de prever o futuro.


Mas ainda que você não acredite em nenhuma força sobrenatural, já parou pra pensar como pequenas coincidências acabam mudando totalmente o nosso destino?


Você pode ter escolhido casar-se com o José ou com a Maria, mas não foi “sem querer” que o Uber demorou pra chegar e vocês começaram a conversar? 


Citando Bukowski, “o amor é uma espécie de preconceito. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse?” 


Não sabemos, mas talvez a resposta esteja na falta de explicação. Seja por um fio invisível, uma troca de olhares ou outra coincidência qualquer, “não é tolo dizer que o amor é sagrado”.


Laço vermelho

(Baseado em uma história real)

A história de Alice e Gabriel começou em janeiro de 2017. Eles moravam na mesma cidade e frequentavam os mesmos lugares, mas nunca tinham reparado um ao outro.


Até que, em um pub aleatório, eles trocaram olhares. O que a Alice diz — e o Gabriel confirma — é que algo entre eles se conectou. E os dois não conseguiram parar de se encarar.

• Mas, como o destino é arteiro, o date da Alice virou pra ela e apresentou o Gabriel como seu amigo.

Ela ficou sem palavras, até que ele quebrou o silêncio com um sorrisinho e um “muito prazer”. Desde então, os caminhos foram um tanto embaraçados.


A Alice já estava envolvida com o amigo do Gabriel, e ele estava vivendo uma história com outra pessoa. Os dois tinham acabado de entrar na faculdade, cheios de planos e incertezas.


E assim eles seguiram se esbarrando pelos acasos da vida, sem nunca tomarem nenhuma atitude, mas sempre sentindo aquele laço invisível que parecia uni-los.

• Em 2019, os dois ficaram solteirosAté tentaram começar uma relação, mas o timing não era dos melhores.

Por uma escolha da Alice — e um aceite do Gabriel — eles terminaram. E não foi fácil pra nenhum dos dois.


Já no final de 2021, eles se reencontraram mais uma vez. Mais maduros e com novas vivências pra contar.


Mas a Alice tinha acabado de terminar um relacionamento, e não estava pronta para engatar em um namoro de novo. Ela queria curtir a vida, e o Gabriel fez o que pouca gente hoje em dia faz: entendeu e esperou.

• Até que, em outubro de 2022, depois de algumas relações líquidas — como já dizia Zygmunt Bauman — a Alice criou coragem e pediu o Gabriel em namoro.

Ele nunca tinha feito esse pedido a ela, mas já tinha deixado claro que era o que queria. Depois de tanto tempo, o Gabriel só respondeu: “Você está brincando? É lógico que eu aceito.”


No mês passado, eles comemoraram dois anos desse pedido. Com 8 anos de história, se tornaram, além de namorados, melhores amigos.


Já moram juntos há um ano e meio, têm planos, sonhos e a tranquilidade de um futuro dividindo a melhor escolha: de estarem juntos.

• Alice diz que Gabriel é seu equilíbrio. Foi aquele amor que chegou lento — mas, desde cedo, mostrou que queria ficar.

Ela sempre foi uma pessoa muito intensa, que ama se comunicar e se envolver com o máximo de hobbies e eventos possíveis. Até quando ela queria falar não, a Alice falava sim.


Já o Gabriel é o oposto. Gosta de ficar em casa, curtir sua própria companhia e ler um bom livro. Então ela acha que eles se completam. Ela na intensidade, e ele na calma.


Quando os avós da Alice completaram 50 anos de casamento, seu tio leu um texto que lembrou muito o seu namoro: "ela com passos curtos e rápidos, ele com passadas longas e lentas. E assim eles caminham juntos."


Os dois ainda têm “pouco” tempo de relacionamento — em comparação com outras histórias —, mas a Alice nunca teve tanta paz com a escolha de alguém pra ter ao seu lado.


Hoje, ela queria agradecer a compreensão do Gabriel, que os carregou por tanto tempo. E também citar a lenda japonesa Akai Ito, que sempre a deixa com o coração quentinho.

• Afinal, ela nos ensina que o amor e a conexão humana são preciosos e que o destino, muitas vezes, nos reserva encontros que mudam a nossa vida.

Seguindo a lenda, quando uma pessoa é destinada a outra, ambas têm um laço vermelho que as ligam, no dedo mindinho. O laço pode embaraçar, emaranhar, mas ele nunca quebra.


Texto e imagens: The stories/Reprodução

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