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História do domingo: Teu rebanho está pronto

olhe para o lado


“É tanto amor à sua volta e você preocupado só com o romântico.


Para entrar no clima da história de hoje, dê o play nesta música aqui.


Amar por amar

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De forma paradoxal, a frase de Santo Agostinho nos lembra que a bondade não é apenas uma virtude abstrata, mas uma força prática e transformadora, que retorna inevitavelmente para quem a pratica.


Ser bom é, no fundo, também um ato de inteligência: aquilo que oferecemos ao outro acaba moldando o mundo em que nós mesmos vamos habitar.


• Mas essa virtude parece ter se perdido em uma sociedade que aplaude a indiferença — como se amar menos fosse sinal de força.


Criamos a ilusão de que quem se entrega menos está sempre “por cima”, no controle e protegido contra a vulnerabilidade.


E aí, começamos a acreditar que só vale a pena amar o que é “útil”: aquilo que traz retorno, pode ser exibido e rende algum tipo de reconhecimento. Como se o amor tivesse que provar sua funcionalidade para ser legítimo.


Contrariando essa visão, Lygia Fagundes Telles escreveu que “é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar...”


O que a autora nos ensina é que só esse amor gratuito é capaz de ser verdadeiro. E Santo Agostinho já sabia: mesmo quando não buscamos retorno, o bem sempre encontra uma forma de voltar.


Por isso, não existe arrependimento em ter amado, mesmo quando não há reciprocidade e quando o outro não entende ou não retribui.


• O amor dado nunca é em vão: ele transforma quem ama, abre espaço e alarga a alma.


E talvez seja justamente essa a nossa única salvação: amar apesar de tudo. No fim da vida, ninguém se arrepende do amor que deu em excesso, mas apenas do que deixou de oferecer.


Teu rebanho está pronto

(Baseado em uma história real?

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Ayana sempre acreditou que a mulher mais forte que já existiu em sua vida atendia pelo nome de Myrian — mas ninguém a chamava assim.


Para os íntimos, ela era Myroca; para Ayana, era muito mais: tia-avó, madrinha, colo e porto seguro.


Myroca era a mais velha de três irmãos. Desde cedo, precisou aprender a lidar com a palavra que mais a acompanharia: perda.


• Perdeu a irmã do meio aos 33 anos, que deixou quatro filhos — entre eles a mãe de Ayana, com apenas seis anos.


• Perdeu a própria mãe antes mesmo da despedida final, quando a esquizofrenia roubou dela as lembranças mais simples.


• Perdeu a filha bebê, sem completar um mês de vida.


• Perdeu o marido, que preferiu seguir outro caminho.


A partir daí, fechou o coração de vez para o amor. “Nunca mais”, dizia ela, recusando-se até a pronunciar o nome dele.


Era como se a vida tivesse tomado de Myroca quase tudo o que era dela. Mas, em contrapartida, ela se reinventou, conquistando aquilo que não lhe havia sido dado: novas relações e novos laços.


Cuidou dos filhos da irmã como se fossem seus. Mais tarde, adotou também os netos desses sobrinhos — e foi assim que Ayana cresceu sob suas asas.


Só que, anos depois, a vida repetiu sua ironia e levou outra sobrinha, também aos 33 anos — e Myroca, como já havia feito antes, acolheu os filhos dela.


• Era essa a marca de Myroca: perder e, mesmo assim, acolher. Perder e ainda assim amar.


Ela tinha um coração que, embora fechado para um tipo de afeto, parecia ilimitado em outro. Doava-se inteira e sem medida, mesmo que cuidasse tão pouco de si.


Como tantas mulheres de sua geração, acreditava que o mundo lhe havia dado uma missão: ser apoio, esteio e cuidado.


Para Ayana, além de tia e madrinha, Myroca era um lugar: um espaço de silêncio, quando não havia palavras a dizer; um refúgio de colo, sem a necessidade de perguntas ou conselhos.


Myroca podia ser conservadora, de língua afiada, julgando tudo e todos sem piedade — arrancando risadas em alguns momentos e fazendo a família passar vergonha em outros. risos.


• Mas, quando alguém precisava, ela se tornava apenas presença, abraço e acolhimento.


Já se passaram quase quatro anos desde que Ayana a perdeu — e ainda assim não há um só dia em que não pense nela.


Até hoje, ela sente um vazio, um buraco no peito que não fecha. Não deixa de se perguntar um dia sequer: como pode, depois de tantos anos, ainda sentir uma perda de maneira tão intensa?


Ela acha que nunca vai entender, mas acredita que o caminho é buscar transformar a dor em uma saudade boa, que nunca deixará de ser meio triste, mas nos fará lembrar por que a sentimos.


Ayana lembra que Myroca amava o vôlei feminino. Era torcedora apaixonada e vibrava como se fosse parte da equipe. As duas se ligavam, lembravam o horário dos jogos e combinavam de assistir juntas.


Quando não podiam estar lado a lado, havia sempre uma ligação depois para reclamar dos saques perdidos, comemorar os pontos mais bonitos ou até se indignar juntas com as derrotas.


Hoje, nesta época de campeonato, Ayana sente um vazio maior — e um desejo enorme de poder telefonar novamente para a tia, como se nada tivesse mudado.


• Nos últimos dias de Myroca, no hospital, Ayana esteve sempre por perto. Era como se quisesse segurar sua mão para que ela não tivesse medo de partir.


Curiosamente, ela só se foi no único dia em que a afilhada não estava lá. Talvez porque, nem na hora de dizer adeus, quisesse dar trabalho, causar sofrimento ou “incomodar” quem tanto amava.


No fundo, Ayana sabia que a tia tinha medo. Medo de ir embora e deixar para trás aqueles que ainda precisavam dela.


Foi por isso que, na tentativa de acalmá-la, colocava para tocar no hospital a música Dona Cila:


"Se queres partir, ir embora / Me olha da onde estiver / Que eu vou te mostrar que eu tô pronta / Me colha madura do pé... / Minha vida depende só do teu encanto / Cila, pode ir tranquila / Teu rebanho tá pronto."


E estava mesmo. O rebanho que Myroca cuidou durante toda a vida permaneceu de pé. Ayana guarda consigo esse amor e repete, em pensamento e coração: Te amamos para sempre, Myroca.


Texto e imagens: The stories/Reprodução

 
 
 

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