Hospedaria une design e artesanato brasileiros nos Lençóis Maranhenses
Design e artesanato brasileiros se destacam em meio à arrebatadora paisagem dos Lençóis Maranhenses. Assim é a Oiá Casa Lençóis, em Santo Amaro do Maranhão, hospedaria com projeto assinado por Marina Linhares
"Aqui há um conflito constante entre a areia, a água e a mata”, pontua Clercio, motorista da jardineira que corta os Lençóis Maranhenses com destino a um passeio de caiaque no Rio Preguiças, de cor vermelho-campari, em uma das extremidades do Parque Nacional. Nessa disputa silenciosa, quem manda é a água – impedindo a mata de tomar a areia, e vice-versa. Mas quem ganha mesmo, no final das contas, são os visitantes que optam por conhecer essa maravilha natural localizada no Nordeste brasileiro. Dessa margem, é possível avistar a imensidão das dunas, que ocupam 155 mil hectares, e algumas das 36 mil lagoas de água morna formadas graças ao período chuvoso, de fevereiro a maio. Algumas delas, mais rasas, são ideais para banho, enquanto outras são profundas como funis, resultado de uma formação tangente às fendas moldadas pelo vento, que esculpe as colinas naturais continuamente. Desvendar esse paraíso brasileiro por meio de passeios personalizados, com carros apropriados e barcos, é uma experiência oferecida pela Oiá Casa Lençóis.
O refúgio, em Santo Amaro do Maranhão, uma das cidades de entrada para o parque, assim como Barreirinhas e a vila de Atins, é um convite à calmaria e à contemplação – por isso a escolha do nome Oiá. Para chegar até a hospedagem na época das cheias, é necessário um pequeno trajeto pelas águas de uma das lagoas, e, quando em terra firme, um quadriciclo oferece uma carona até a suíte escolhida. O oásis instalado na antiga Fazenda Boca da Ilha, em uma área de 52 mil m², é marcado pela vegetação nativa e por visitas ilustres, como as pequenas cabras, que, vez ou outra, aparecem por ali. “A proposta deste modelo de negócio ocorre em sintonia com um momento pós-pandemia, de maior valorização da autenticidade, da afetividade no acolhimento e de conexão com o que é essencial”, explica Tomas Perez, CEO do TP Group, a quem pertence a marca de hospitalidade, inaugurada em 2023.
O projeto é composto por uma casa principal, com duas suítes e áreas comuns, além de dois bangalôs com dois quartos cada para abrigar os hóspedes. Colunas e escadas brancas marcam a estrutura da construção central, com um espaçoso ambiente aberto que conjuga o entorno com maestria, na proposta assinada pelo escritório da designer e diretora criativa da Oiá, Marina Linhares. “Certa vez ouvi um hoteleiro dizer que tinha criado um lugar, mas o importante era o que estava fora. Aqui seguimos essa premissa, de colocar as pessoas em contato com o que está em volta, não só com a beleza do espaço construído”, conta ela, relembrando ainda seu encontro com Thierry Tessier, fundador do 700,000 Heures, primeiro hotel itinerante do mundo. “Quando ele apresentou o conceito, nós adoramos. A partir dessa história, fomos conhecer Santo Amaro e nos apaixonamos. Foi onde tudo começou.”
A luz do entardecer evidencia o desejo de Marina. Móveis e objetos têm a silhueta refletida no chão, como se fincassem ali suas raízes brasileiras. No projeto, a maioria das peças é nacional – sejam elas criações de artesãos da região ou de designers contemporâneos. Na composição, destacam-se, por exemplo, um sofá personalizado de Carlos Motta, uma escultura da série Careta de Cazumbá, de Mestre Zimar, e assentos de profissionais da Ilha do Ferro, em Alagoas. “É o meu mundo dos sonhos”, descreve a designer. “Foi uma busca por materiais e artistas que tivessem a ver com nosso Norte-Nordeste.” O conceito é reforçado ainda pelas tramas de bordados e trançados e as texturas do rico mix de materiais. Dentro e fora da hospedaria, as experiências sensoriais são as apostas da Oiá para aprofundar a conexão dos visitantes com o local.
Entre os serviços disponibilizados estão passeios nas dunas, incluindo um luau, jantar à luz de velas nas ruínas da propriedade e almoços sob as árvores. A gastronomia promete arrebatar assim como o cenário. Com execução comandada pelo chef brasileiro Luiz Felipe Streppel, além da participação na idealização dos pratos do francês Cedric Nieuviarts e do italiano Riccardo Campone, a preferência é pelos fornecedores locais e por ingredientes extraídos da própria horta. A pescada-amarela no vapor com crosta de milho ao molho de cogumelos e castanhas de caju dá indícios dos sabores que saem da cozinha. Harmonizada com a tradicional tiquira, aguardente produzida no Maranhão e reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Maranhense há pouco menos de um ano, está feito o combo ideal.
Tal valorização da riqueza cultural contempla ainda um olhar aos residentes desse paraíso. Uma das ações realizadas pela Oiá é a capacitação de moradores de Santo Amaro para compor a equipe da hospedagem. O programa está sendo desenvolvido em colaboração com o Instituto Caburé e visa criar um processo de escuta ativa com a comunidade, a fim de respeitar quem habita a cidade e, sobretudo, ouvir os conhecimentos e as vivências sobre o ambiente. “As pessoas que vão para os Lençóis esquecem a existência de uma cultura e uma história que precisam ser enaltecidas. A questão cultural é pulsante na comunidade. Está na identidade maranhense”, conclui Camilla Marinho, fundadora e diretora do Instituto Caburé.
Reprodução: Casa Vougue
Foto: Ruy Teixeira
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