Veneza estava tão farta das hordas de turistas que inventou uma taxa de entrada; ideia deu tão certo que cidade está dobrando número de cobranças
Em 2024, o "pedágio" rendeu quase 2,5 milhões de euros aos cofres
Que o turismo tem saído do controle em Veneza, na Itália, é notável pela quantidade de tentativas e fórmulas que a cidade tem tentado nos últimos anos. Num enclave cuja geografia não é suficiente, o turismo de massa ameaça o próprio ecossistema e as suas instalações. É por isso que impuseram limites a grandes grupos com multas. Também há uma espécie de pedágio, uma taxa de entrada que aparentemente tem dado certo.
Conforme relata a BBC, Veneza decidiu quase duplicar os dias de cobrança da entrada para turistas em 2025, passando de 29 para 54 dias de aplicação, como parte de um esforço para reduzir o turismo de massa. A medida foi testada com sucesso em 2024 e decorrerá aos finais de semana e feriados entre abril e julho de 2025, segundo o prefeito Luigi Brugnaro, com o intuito de “dar a Veneza o respeito que merece”.
Cobrança e isenções
Se você for a Veneza nos dias em que a taxa estiver em vigor, saiba que os visitantes que fizerem reserva antecipada pagarão 5 euros - se reservar menos de quatro dias, o custo será de 10 euros. Por outro lado, visitantes que sejam crianças menores de 14 anos ou pessoas com cartão de deficiência também estão isentas da taxa de acesso.
A lista completa pode ser consultada detalhadamente no site da Vènezia Unica. Além disso, algumas dessas exceções devem ser comprovadas e carecem de registro. Para facilitar o controle, a Câmara Municipal indica que os visitantes devem portar um código QR nos seus celulares, e quem não cumprir poderá enfrentar multas substanciais (não especificadas). Residentes de Veneza, estudantes e quem tem alojamento na cidade estarão isentos da taxa.
O primeiro teste deu certo
A nova política não faria sentido se os testes anteriores não tivessem sido um sucesso. Na sua fase inicial, em 2024, o "ingresso" rendeu 2,4 milhões de euros em apenas oito dias, valor que superou todas as expectativas da Câmara, embora o custo de gestão e campanha de comunicação do sistema tenha atingido os 3 milhões de euros, colocando em dúvida a sua rentabilidade total.
Claro, também há críticos da medida, como o vereador Giovanni Andrea Martini, que argumenta que a taxa transforma Veneza numa espécie de “museu” ou “parque de diversões” sem abordar adequadamente o fluxo massivo de turistas. O pedágio "só" rendeu dinheiro, já que não parece ter diminuído a quantidade de turistas (que, teoricamente, era o principal motivo da taxa).
Dias e locais específicos
Se você planeja visitar Veneza, tome cuidado pois importa quando e onde. A taxa de acesso é aplicada em dias específicos e na chamada Cidade Velha, onde se reúnem muitos dos seus atrativos turísticos. Estão excluídos os visitantes que passam pela Piazzale Roma, Tronchetto ou Stazione Marittima sem acessar o centro histórico. Também não pagam a taxa aqueles que precisam chegar ao cais de San Giobbe a partir de determinados pontos, ou turistas que visitam as chamadas Ilhas Menores da lagoa.
Há dois anos, a população do seu centro histórico, sem contar as Ilhas Menores da lagoa de Veneza ou as zonas continentais, já era inferior a 50 mil pessoas, longe dos números que se usavam na década de 1970. Desde a década de 1950, a ilha principal teria perdido mais de 120 mil residentes. Entretanto, o seu boom turístico significou que recebe centenas e centenas de milhares de visitantes todos os anos.
A BBC destacou que a cidade recebe cerca de 30 milhões por ano. Só a ilha principal de Veneza atraiu 3,2 milhões de visitantes durante a noite em 2022, observa o The Guardian. Nos dias de maior movimento, cerca de 40 mil vão à cidade. Na verdade, até mesmo a UNESCO alertou para o impacto negativo do turismo de massa e das alterações climáticas em Veneza, sugerindo que a cidade poderia ser adicionada à lista de patrimônio mundial em perigo.
Além disso, desde 2021, os grandes navios de cruzeiro estão proibidos de entrar no centro histórico de Veneza devido ao seu impacto ambiental e aos danos que causam às fundações da cidade, um terreno fértil que só agrava o problema das inundações frequentes.
Reprodução: IGN Brasil
Comments