História do domingo: Tudo era mágico
- reginaldorodrigues3
- 8 de jun.
- 4 min de leitura
Instantes de felicidade
A pergunta que ainda ecoa no peito: será que haverá um reencontro?
Curtindo um clima bem nostálgico, essa música é a cara da edição de hoje. 🌃
Noites Brancas


Esta frase é do livro Noites Brancas, de Dostoiévski, que narra a história de um sonhador solitário que se apaixona por Nástienka, uma jovem que espera o retorno de um homem que prometeu casar-se com ela.
• A narrativa se passa durante as noites brancas, período em que a cidade não escurece totalmente, criando uma atmosfera de sonho e esperança.
Nesses encontros, o narrador experimenta momentos de intensa felicidade, ainda que fugazes. A frase citada, inclusive, reflete essa tentativa de dar sentido à vida por meio desses breves instantes.
A pergunta retórica — “por que não há de ser isso bastante?” — revela tanto uma aceitação melancólica quanto um protesto contra a natureza transitória da felicidade.
Para o narrador, mesmo que a felicidade dure pouco, ela é tão intensa que poderia, idealmente, bastar para preencher toda a vida com seu brilho.
Há algo de profundamente humano e comovente na ideia de que um instante de felicidade pode justificar uma vida inteira. Como se, por um breve segundo, o mundo parasse de pesar — e tudo fizesse sentido.
• Dostoiévski parece sugerir que a vida não precisa ser repleta de acontecimentos grandiosos ou de felicidade constante.
Basta um momento verdadeiro para que a alma se sinta plena. Uma emoção limpa, um encontro bem orquestrado pelo destino. O resto — a solidão, o silêncio, o esquecimento — vira pano de fundo para aquilo que brilha.
Como já dizia Clarice Lispector, “se em um instante se nasce, e se morre em um instante, um instante é bastante para a vida inteira.”
Tudo era mágico
(Baseado em uma história real)

Mi estava curtindo suas férias em Salvador quando resolveu baixar o Tinder — mais por curiosidade e aventura, sem muita expectativa.
• Em um sábado de março, enquanto aproveitava o dia no bairro de Stella Maris, aconteceu o match com Jeo.
A conversa fluiu facilmente e os interesses bateram. Após algumas perguntas protocolares e assuntos triviais, veio o convite para o jantar — no mesmo dia, sem muita enrolação.
Era uma terça-feira, 22 de março de 2022. Ele foi buscá-la de Uber, na casa onde ela estava hospedada. Ao entrar no carro e olhar para ele pela primeira vez, Mi não conseguiu disfarçar.
Ela sempre foi muito expressiva e não estava acostumada a sair com “estranhos”. Mais tarde, Jeo confessaria que aquele olhar parecia de quem viu algo que não esperava.
Como Strangers in the Night, de Frank Sinatra, eles eram estranhos até o momento em que disseram o primeiro “olá”; mal sabiam que o amor estava apenas a um olhar de distância.
• Já era tarde, e vários bares estavam fechados. Eles acabaram indo para o Rio Vermelho, e escolheram o restaurante Caminho de Casa.
Entre goles de vinho, conversas gostosas, risos fáceis e trocas de olhares, Mi sentiu uma energia boa, leve e encantadora. Já dava para perceber que aquilo não era só o acaso; era encontro.
Caminharam pela orla depois do jantar e, em frente ao mar, sob o céu estrelado, Jeo disse: “estou com vontade de te beijar”. Foi ali o primeiro beijo. Um beijo calmo e encaixado.
Não queriam que o encontro acabasse. Viraram inimigos do fim — de bar em bar, rindo e aproveitando a noite. Terminaram com mais uma garrafa de vinho, já na casa dele.
Ela tinha passagem comprada para Aracaju, mas desistiu de ir. Sentiu que precisava viver essa história.
• Os dias seguintes foram intensos, como um sonho bom do qual ela não queria acordar.
Viveram um tempo só deles, em que tudo parecia suspenso: risos soltos, filmes com a cabeça encostada no peito, banho de mar, beijos que levavam à entrega do corpo e terminavam em sono profundo.
As noites eram regadas a vinho, comilança, conversas e olhares que diziam mais do que palavras. Foram oito garrafas em cinco dias — e, em cada uma delas, um capítulo dos dois.
Mi sente que viveu uma vida inteira em poucos dias — sete, para ser mais precisa. Como canta Bell Marques: “Encontrei o meu amor na cidade de Salvador, tão romântica, tão histórica..."
Mas ela precisava voltar para Barreiras, a 862 km de Salvador. A vida não tinha parado e Mi precisava concluir sua graduação. Sem notícias um do outro, seguiram caminhos separados.
• Até que, três anos depois daquele encontro, veio a mensagem dele: “saudade de você.”
Mi estava em Minas, fazendo mestrado. Jeo estava em Curitiba, por conta do trabalho. Mas foi em Salvador, a cidade mágica onde tudo começou, que aconteceu o reencontro.
Combinaram os detalhes com cuidado: ele queria um jantar, como da primeira vez. Ela escolheu o dia, terça-feira, como da primeira vez.
Encontraram-se no Rio Vermelho, agora, em um restaurante diferente. Mas tudo parecia seguir o mesmo roteiro: conversas intermináveis, risos fáceis e olhos que se procuram.
Outra terça-feira, 13 de maio de 2025. Outro jantar no Rio Vermelho. Dessa vez, no restaurante Salvador Dalí. Outro encontro eternizado.
Mi sente-se grata por ter vivido algo assim, mesmo que breve. Mesmo sem saber se haverá continuidade. Um amor que talvez nunca vire cotidiano, mas que também nunca será esquecido.
• Para Mi, estar com Jeo é ser ela mesma. Sem filtro, sem performance e sem medo. Como é raro viver algo assim.
Ele estará em Salvador em julho. Em seguida, ela irá para Curitiba. Fica aí a expectativa de mais algumas rolhas de vinho, fotos, beijos gostosos e conversas sem fim.
Mi escreve essa história com lágrimas nos olhos, lembrando que “talvez o para sempre não seja sobre pessoas, mas sobre memórias.” Mas tem uma pergunta que ainda ecoa no peito: será que haverá um reencontro?
Texto e imagens: The stories/Reprodução












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