Sinto lhe informar: os Lençóis Maranhenses não são indicados pra todo mundo
- reginaldorodrigues3
- 20 de abr.
- 6 min de leitura
Visitantes idosos ou com problemas de mobilidade sofrem com a falta de acessibilidade no local

A jardineira 4X4, uma caminhonete Hilux adaptada com bancos na carroceria, para bem na borda da duna de areia branca. O sol de rachar aumenta o calor extremo na região. Lá embaixo, uma lagoa de água de chuva, com cor esverdeada, é um convite ao banho refrescante. Aos poucos, os visitantes descem do veículo e apenas uma passageira permanece no lugar. Cadeirante e com mais de 70 anos, Maria de Lourdes, veio de São Paulo para conhecer o paraíso no Nordeste do Brasil. Para ela, a experiência foi incompleta. Apenas conseguiu observar as belezas locais, não pôde senti-las.
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, localizado no Maranhão, Brasil, é um destino de beleza natural singular, reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO desde 26 de julho de 2024. No entanto, suas características naturais e a infraestrutura limitada tornam o local desafiador para visitantes idosos ou com problemas de mobilidade. As condições de acessibilidade geram debates para agências e órgãos públicos em promover ações e melhorar o acesso ao destino.

Resumo do que vai ler
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, agora um Patrimônio Natural da Humanidade, é um destino de beleza incomparável, mas suas dunas de areia solta, trilhas longas e falta de infraestrutura adaptada o tornam inadequado para idosos e pessoas com mobilidade reduzida. A acessibilidade é limitada, com poucas opções de passeios adaptados e ausência de trilhas ou veículos acessíveis.
No entanto, iniciativas do Ministério do Turismo, ICMBio, governo do Maranhão e UNESCO, como os novos portais de acesso e estudos de mobilidade, sinalizam melhorias futuras. Em 2024, o parque provavelmente ultrapassou os 60.000 visitantes anuais devido ao título da UNESCO, que aumentou sua visibilidade global. Para visitantes com limitações, é essencial planejar com agências especializadas e considerar alternativas menos exigentes, enquanto o parque evolui para se tornar mais inclusivo.
Idosos e pessoas com mobilidade reduzida
O parque é composto por extensas dunas de areia solta, com trilhas irregulares que exigem caminhadas longas, muitas vezes de 2 a 4 km, para acessar as lagoas. Subir e descer dunas sob sol intenso (temperaturas podem ultrapassar 30°C) é fisicamente exigente.
As lagoas, principal atração, estão localizadas entre as dunas, sem caminhos pavimentados ou estruturas de apoio, como corrimãos ou plataformas. A areia fofa dificulta o uso de cadeiras de rodas, bengalas ou andadores, tornando a locomoção praticamente inviável para pessoas com limitações físicas.
Condições climáticas:
A região tem alta umidade e exposição solar intensa, especialmente entre maio e agosto, quando as lagoas estão cheias e o parque recebe mais visitantes. Isso pode ser exaustivo para idosos ou pessoas com condições de saúde sensíveis ao calor.
Falta de infraestrutura adaptada:
Não há trilhas acessíveis, banheiros adaptados ou áreas de descanso cobertas dentro do parque. Os acessos principais, como Barreirinhas, Santo Amaro do Maranhão, Humberto de Campos e Primeira Cruz, dependem de veículos 4x4 ou barcos, que não são equipados para pessoas com mobilidade reduzida. Os trajetos até o parque envolvem estradas de terra ou areia, e os veículos 4x4 (jardineiras) exigem que os passageiros subam e desçam sem rampas ou suportes adequados.
Acessibilidade
Atualmente, a acessibilidade no parque é extremamente limitada, mas há iniciativas em andamento para melhorar a infraestrutura, especialmente após o reconhecimento pela UNESCO.
Infraestrutura existente:
Dentro do parque: Não há adaptações específicas, como trilhas acessíveis, rampas, banheiros adaptados ou sinalização para pessoas com deficiência. As lagoas e dunas são acessadas exclusivamente por trilhas de areia, sem qualquer estrutura fixa.
Cidades de acesso:
Barreirinhas: Principal porta de entrada, possui alguma infraestrutura urbana, como calçadas em áreas centrais e pousadas com quartos acessíveis. No entanto, os pontos de embarque para os passeios (cais, agências) não são adaptados.
Santo Amaro do Maranhão: Menos desenvolvida, tem infraestrutura ainda mais precária, com ruas de areia e poucas opções de hospedagem acessível.
Humberto de Campos e Primeira Cruz: São acessos secundários com infraestrutura mínima, sem adaptações para mobilidade reduzida.
Alternativas de passeios:
Algumas agências oferecem passeios de jardineira (veículos 4x4) que levam os visitantes até a borda das dunas, reduzindo a necessidade de caminhadas longas. No entanto, esses veículos não possuem acessibilidade, como elevadores ou assentos adaptados.
Passeios de barco pelo Rio Preguiças são uma opção menos exigente fisicamente, mas os barcos não têm rampas ou banheiros acessíveis, e o acesso às embarcações pode ser um obstáculo.
Há também voos panorâmicos sobre o parque, que poderiam ser uma alternativa para evitar esforço físico, mas esses serviços são caros e não amplamente disponíveis.
Limitações gerais:
A falta de guias especializados em turismo inclusivo e a ausência de equipamentos como cadeiras de rodas adaptadas para terrenos arenosos (como as "joëlettes") restringem ainda mais o acesso. A gestão do parque, feita pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), prioriza a preservação ambiental, o que limita a construção de infraestruturas fixas nas áreas de dunas e lagoas.
Ações de agências
Após a designação como Patrimônio Mundial da UNESCO, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses ganhou maior visibilidade, o que tem impulsionado iniciativas para melhorar a infraestrutura turística, incluindo a acessibilidade. Abaixo estão as principais ações de agências e órgãos governamentais:
Ministério do Turismo (MTur):
O MTur está desenvolvendo um plano de ação para o desenvolvimento turístico sustentável no parque e seu entorno, com foco em inclusão social e geração de empregos. Esse plano inclui melhorias na infraestrutura de acesso, como a construção de portais de entrada com arquitetura sustentável. Em novembro de 2024, o MTur, em parceria com a UNESCO e o ICMBio, lançou um edital para contratar empresas especializadas em engenharia e arquitetura. O objetivo é projetar novos portais de acesso que melhorem a experiência do visitante, com espaços de atendimento e informações turísticas. Esses portais podem incluir adaptações para acessibilidade, como rampas e áreas de descanso.
Outro edital foi lançado para estudos de mobilidade, mapeando trilhas e vias para transporte motorizado e não motorizado (como trekking e ciclismo). Esses estudos podem identificar rotas com menor exigência física, beneficiando idosos e pessoas com mobilidade reduzida.
Instituto Chico Mendes (ICMBio):

O ICMBio, responsável pela gestão do parque, está envolvido nos projetos de melhoria de infraestrutura, garantindo que as intervenções respeitem as diretrizes de preservação ambiental. A instituição participou da organização de visitas técnicas da UNESCO em 2023, que avaliaram a infraestrutura turística e o plano de manejo do parque.
Embora o foco do ICMBio seja a conservação da biodiversidade, a pressão por turismo sustentável após o título da UNESCO pode levar a iniciativas de acessibilidade, como trilhas interpretativas mais acessíveis em áreas menos arenosas.
Governo do Maranhão:
Em 2023, representantes do governo acompanharam a visita técnica da IUCN, destacando a necessidade de melhorar a infraestrutura para atender ao aumento esperado de visitantes. O estado está investindo em Barreirinhas e Santo Amaro, com melhorias em calçadas, sinalização e hospedagens, mas ainda não há projetos específicos para acessibilidade no parque.
Agências de turismo privadas:
Algumas agências, como a Vivalá Turismo Sustentável, oferecem passeios personalizados que podem ser adaptados para reduzir o esforço físico, como roteiros com menos caminhadas ou uso de veículos 4x4 para aproximar os visitantes das lagoas. No entanto, essas opções ainda não incluem adaptações específicas para pessoas com deficiência. Empresas locais estão começando a oferecer passeios de barco e voos panorâmicos como alternativas para visitantes que não podem caminhar nas dunas, mas esses serviços não são amplamente acessíveis devido ao custo elevado.
UNESCO e parcerias internacionais:
A UNESCO está apoiando o desenvolvimento de projetos de infraestrutura sustentável por meio de editais e parcerias com o MTur e o ICMBio. Esses projetos visam melhorar a experiência turística enquanto preservam o meio ambiente, com potencial para incluir adaptações de acessibilidade nos novos portais de entrada. A designação como Patrimônio Mundial exige que o Brasil implemente planos de manejo que considerem a inclusão, o que pode pressionar por melhorias na acessibilidade a longo prazo.
Título da UNESCO
Em 26 de julho de 2024, durante a 46ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, em Nova Délhi, Índia, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade. Este é o oitavo sítio natural brasileiro a receber o título, juntando-se a locais como o Parque Nacional do Iguaçu, a Amazônia Central e Fernando de Noronha.
Critérios para o título:
Beleza natural excepcional: As dunas brancas e lagoas cristalinas, formadas pela chuva em uma zona de transição entre Cerrado, Caatinga e Amazônia, foram consideradas únicas no mundo.
Valor geológico e geomorfológico: O parque possui características únicas, como dunas costeiras que ocupam 57% de sua área de 155.000 hectares, com lagoas temporárias e permanentes.
Biodiversidade: Abriga 133 espécies de plantas, 112 de aves, 42 de répteis e quatro espécies ameaçadas, como o guará, a lontra-neotropical, o gato-do-mato e o peixe-boi-marinho.
Recomendações para visitantes idosos ou com mobilidade reduzida
Embora o parque seja desafiador, algumas estratégias podem facilitar a visita:
Passeios alternativos: Opte por roteiros de barco no Rio Preguiças ou voos panorâmicos, que exigem menos esforço físico.
Agências especializadas: Consulte operadoras que ofereçam passeios personalizados, como a Vivalá, e peça adaptações, como paradas mais frequentes ou transporte até áreas mais próximas das lagoas.
Hospedagem acessível: Escolha pousadas em Barreirinhas com quartos adaptados e verifique a acessibilidade nos pontos de embarque.
Destinos alternativos: Para quem busca paisagens semelhantes com maior acessibilidade, praias urbanas do Nordeste, como Porto de Galinhas (PE) ou Jericoacoara (CE), podem ser opções mais viáveis, com calçadas, rampas e infraestrutura turística mais desenvolvida.
Reprodução: Estado de Minas
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